Papa aconselha como ser um bom católico ante desafios do século XXI

O papa Francisco lançou nesta segunda-feira sua terceira exortação apostólica, a “Gaudete et Exsultate”, um manual de como ser um bom católico frente aos desafios do século XXI e também uma resposta aos detratores de seu pontificado.

O papa, que prometeu uma “igreja pobre para os pobres” poucos dias depois de sua eleição em 13 de março de 2013, renovou seu compromisso com os esquecidos, os imigrantes e as vítimas das novas formas de escravidão.

O novo documento, lançado depois do “Evangelii Gaudium” (2013) e “Amoris Laetitia” (2016), se dirige às pessoas comuns e usa da tradicional linguagem simples e pedagógica.

O líder de quase 1,3 bilhão de católicos explica que existem “os santos da porta ao lado”, o melhor dos santos, que, embora não alcancem a glória dos altares, agem como verdadeiros santos.

Porque para se tornar um santo “não é necessário ser bispo, sacerdote, religiosa ou religioso”, adverte.

No documento, o papa reitera seu compromisso com os imigrantes, com aqueles que sofrem e com aqueles que são excluídos. “A vida dos pobres é tão sagrada quanto a vida dos que não nasceram”, diz ele.

“A defesa do inocente que não nasceu, por exemplo, deve ser clara, firme e apaixonada (…) Mas igualmente sagrada é a vida dos pobres que já nasceram, que lutam na miséria, no abandono, adiamento, tráfico de seres humanos, eutanásia encoberta em doentes e idosos privados de atenção, novas formas de escravidão e em todas as formas de descarte”, escreveu ele.

O papa argentino reconhece que não é fácil alcançar a santidade e cita tentações e até mesmo o diabo, “um ser pessoal que nos atormenta” com seu ódio e seus vícios e “não um mito, um símbolo ou uma ideia”.

– O compromisso social: nem comunista nem populista –

Para os católicos comprometidos principalmente com a defesa dos valores éticos tradicionais, que muitas vezes o criticam e até questionam suas capacidades teológicas, Francisco responde em termos claros.

“É nocivo e ideológico o erro daqueles que suspeitam do compromisso social dos outros, considerando-o superficial, mundano, secularista, imanente, comunista, populista”, aponta.

Francisco cita os Evangelhos e assegura que entre os inimigos e os “falsos profetas” estão aqueles que “têm uma resposta para tudo”.

Como de costume também nas suas homilias, o papa ressalta aos católicos do século XXI os limites dos grandes fenômenos da vida moderna, como a violência verbal nas redes sociais, a tendência para a agressão, o egocentrismo, difamação e calúnia.

“O oitavo mandamento é completamente ignorado, ‘não levante falso testemunho ou mentira’, e a imagem dos outros é destruída sem misericórdia”, lamentou.

A terceira exortação de Francisco elogia a alegria de viver e o humor, pois considera que a santidade pode ser alcançada com gestos simples, como cuidar de seus entes queridos, cumprir seu trabalho honestamente, “silenciar as faltas de seus irmãos”.

Entre o conselho dado para se alcançar a santidade, “ser pobre de coração”, “reagir com humilde mansidão”, “saber chorar com os outros”, “buscar a justiça com fome e sede” e “semear a paz ao nosso redor” .

E entre os maiores obstáculos para ser um católico exemplar: “negatividade e tristeza”, “individualismo” e “tantas formas de falsa espiritualidade sem encontro com Deus que reinam no atual mercado religioso”.

Francisco, que não tem computador nem televisão, mesmo que suas palavras estejam presentes nas redes sociais, insiste particularmente nos efeitos de uma sociedade hiperconectada.

“O consumo da informação superficial e as formas de comunicação rápida e virtual podem ser um fator de atordoamento que se leva todo o nosso tempo e nos afasta do sofrimento dos irmãos”, adverte.

Uma exortação apostólica é uma recomendação que o papa dirige aos fiéis sem chegar a ser a doutrina da Igreja.

Além das exortações, Francisco escreveu em cinco anos de pontificado duas encíclicas: “Lumen fidei”, em 2013 e assinada com Bento XVI, e “Laudato si” em 2015.

* AFP