Chá de boldo pode melhorar os sintomas ou curar a covid-19?

Circula nas redes sociais digitais uma postagem que afirma que chá de boldo combate os sintomas do novo coronavírus.  A fake news, compartilhada mais de 20 mil vezes por contas pessoais no Facebook, alega que “enquanto o governo gasta bilhões no combate contra a doença”, um homem teria descoberto que o chá – geralmente usado para problemas gastrointestinais – combate os sintomas em três horas.

Segundo o site oficial da Organização Mundial da Saúde (OMS), ainda não há nenhuma substância que tenha apresentado resultados na prevenção ou cura do novo coronavírus. Estão em produção testes clínicos com diversos medicamentos – tradicionais e naturais – e a entidade irá informar a população em caso de novidade. Além disso, não há qualquer outro estudo científico que comprove a eficácia do chá de boldo para o combate ao vírus.

A verdade é que chás caseiros podem aliviar sintomas leves da doença, mas nenhum tem efeito terapêutico. Devido à maioria das pessoas contaminadas pela covid-19 apresentar casos leves do vírus, especialistas explicam que o uso de chás pode oferecer maior conforto, mas que não possuem nenhuma relação com a eventual cura, e que os sintomas já iriam se dissipar naturalmente.

Segundo o supervisor da residência em infectologia no HUSM e doutor em epidemiologia, Fabio Lopes Pedro, na utilização de algum composto são envolvidos os conceitos da beneficência e da não-maleficência. O primeiro se refere ao uso da substância porque ela irá trazer alguma vantagem ou melhora; e o segundo é relacionado com o fato de ela não fazer mal ou trazer prejuízos.

No caso dos chás, ele afirma que não há contraindicação, pois, a princípio, esses compostos naturais não têm nenhum fator de maleficência. Apesar de também não trazerem nenhuma vantagem diretamente relacionada ao novo coronavírus, eles podem auxiliar de outras formas. “É importante ressaltar que qualquer ingestão de chás ou outros compostos naturais conhecidos – como é o caso do boldo – pode levar a algumas melhoras, especialmente do grau de hidratação. E têm sido visto nos pacientes que internam que a hidratação é um componente bastante importante”, declara o especialista.

Uma alternativa à medicina tradicional

Vale lembrar que a medicina alternativa funciona – e isso é comprovado cientificamente. Além disso, ela é fonte de renda para diversos agricultores familiares. O uso dessas técnicas se desenvolve constantemente e inclusive compõe campo de pesquisa na UFSM – confira a reportagem que fizemos em 2019. Os problemas são os diversos boatos espalhados que relacionam o uso de plantas medicinais com a cura da Covid-19.

Assim como qualquer medicamento tradicional, os excessos são prejudiciais à saúde. O boldo é um exemplo disso, já que é muito usado para tratar problemas digestivos, de fígado, dores de cabeça e até pedras na vesícula. A planta tem outras propriedades como antioxidantes e anti-inflamatórias, mas o seu uso prolongado apresenta riscos de toxicidade (pode provocar vômito, diarreia e até aborto, em casos extremos).

A piada que virou boato

A relação entre o chá de boldo e a covid-19 existe desde fevereiro, quando postagens em forma de meme representavam o uso do chá como cura da doença. O motivo do humor era em relação aos chás serem utilizados por muitas das avós dos internautas como forma de medicar qualquer doença. A perspectiva mudou quando, alguns meses depois, o vídeo de um homem que anunciava ter curado a si mesmo e a sua esposa viralizou na internet. A mesma fake news, mais tarde, se espalhou em forma de texto, mas também contou com outros conteúdos que referenciavam a substância como uma “cura milagrosa”.

Apesar de o burburinho nas redes sociais em relação à propagação de notícias falsas, comunidades científicas seguem com a busca por uma vacina contra o novo coronavírus. No momento, cerca de 136 vacinas estão em desenvolvimento em todo o mundo. A mais avançada é a da Universidade de Oxford, na Inglaterra. Os pesquisadores anunciaram recentemente que a vacina é “segura e induziu resposta imune”. Ela já está na fase 3 – que é a última antes da aprovação e distribuição – e compete a liderança com pelo menos outras quatro vacinas, desenvolvidas na China e na Rússia, segundo dados da OMS.

No Brasil, a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) lidera os testes da vacina inglesa em voluntários desde o final de junho. Além disso, a Fundação Oswaldo Cruz afirma que já possui um acordo informal com a AstraZeneca – a organização farmacêutica que adquiriu a vacina de Oxford – e está no aguardo da possível aprovação para iniciar sua produção em território brasileiro. Até lá, devemos seguir com as medidas de segurança e de higiene recomendadas pela OMS.

Mitômetro Coronavírus é um projeto de checagem de fatos da revista Arco voltado para a temática da pandemia com o objetivo de combater a desinformação.

O projeto é desenvolvido pela equipe da revista e tem a colaboração de egressos do curso de Jornalismo da UFSM.

Compreenda os selos:

Comprovado – fato com evidências científicas e que pode ser explicado a partir de relatórios, documentos e pesquisas confiáveis e com metodologias factíveis. 

É possível – selo para uma checagem com elementos reais. Não há comprovação 100% em função de determinados indícios, detalhes ou situações.

Depende – é o meio termo entre o que é mito e a verdade. Não existe um consenso entre as fontes e os especialistas. Também usado para quando faltam evidências ou para destacar que o fato pode ocorrer em uma determinada situação. 

Improvável – refere-se a uma situação com pouquíssima possibilidade de ser real. 

Mito – não existe possibilidade alguma de ser verdade. Existem evidências que provam o contrário. Enquadram-se aqui as teorias da conspiração, as lendas da internet e as noticias falsas.

Revista Arco / UFSM

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