Fumo e carnes puxam alta de 8,4% nas exportações do agronegócio gaúcho no primeiro trimestre de 2021

Após um ano afetado pela estiagem e pela pandemia do coronavírus, as exportações do agronegócio gaúcho iniciaram 2021 em alta. Entre janeiro e março, as vendas totalizaram US$ 2 bilhões, um aumento de 8,4% em valor (US$ 154,1 milhões) na comparação com o mesmo período de 2020. Em termos absolutos, os principais responsáveis pela recuperação foram os setores de fumo (mais US$ 77,2 milhões; +27,4%), carnes (mais US$ 59,8 milhões; +13,1%) e de cereais, farinhas e preparações (mais US$ 42 milhões; +20,9%).

Entre os cinco principais setores exportadores do agronegócio do Rio Grande do Sul, o setor de produtos florestais também apresentou alta nas vendas no período (mais US$ 12,2 milhões; +5,6%). O destaque negativo do primeiro trimestre de 2021 ficou por conta do complexo soja, com uma redução absoluta de US$ 80,9 milhões na comercialização, queda de 21,9% na comparação com o ano anterior.

As primeiras informações sobre as vendas externas do setor em 2021 foram divulgadas na manhã desta quarta-feira (12/5) pelo Departamento de Economia e Estatística (DEE), vinculado à Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG) no boletim Indicadores do Agronegócio do RS. Elaborado pelos pesquisadores Sérgio Leusin Jr. e Rodrigo Feix, o documento contempla também os dados sobre o emprego formal no campo nos três primeiros meses do ano.

Primeiro trimestre

O setor de carnes, em termos absolutos, foi o mais representativo nas exportações de janeiro a março, com um total de US$ 515,2 milhões. O incremento nas vendas de carne suína (mais US$ 39,6 milhões; +30,9%) foi o principal destaque do período e mantém a trajetória de alta iniciada ainda no primeiro trimestre de 2019, momento em que a China passou a importar um maior volume devido ao surto de Peste Suína Africana em seu território.

O segmento de fumo e seus produtos teve o melhor desempenho nas exportações para um primeiro trimestre em toda a série histórica, iniciada em 1997, com um total de US$ 359 milhões em vendas e destaque para o fumo não manufaturado (mais US$ 73 milhões; +28,5%). Conforme o boletim, o resultado histórico está relacionado com o alongamento da janela de processamento no último ano em razão da pandemia, visto que, tradicionalmente, os três primeiros meses apresentam volumes menores que os demais períodos do ano.

No setor de cereais, farinhas e preparações, o aumento nas exportações de trigo (mais US$ 64,7 milhões; +114,7%) auxiliou o segmento a atingir um total de US$ 243,3 milhões em vendas para o exterior. “A alta nos preços internacionais e a desvalorização do real frente ao dólar melhorou a competitividade do produto gaúcho no mercado externo”, explica o pesquisador Sérgio Leusin Jr.

No complexo soja, enquanto o período de colheita da próxima safra não chega, a redução nas vendas é justificada pela falta de produto para exportação. Com a menor disponibilidade da oleaginosa em função da estiagem de 2020 e a alta na demanda pelo grão no ano passado, os estoques foram afetados. Assim, as exportações no primeiro trimestre no setor alcançaram US$ 288,0 milhões contra US$ 368 milhões nos primeiros três meses do ano passado.

Entre os principais destinos das exportações, a China segue em primeiro lugar (23,7% do total), mas foi a União Europeia a responsável pelo avanço mais significativo do período. Com um crescimento absoluto de US$ 114,6 milhões em valor (+40,5%), fruto da alta nas compras de farelo de soja e fumo não manufaturado, o grupo de países se aproximou da China na ponta do ranking, sendo responsável por 19,9% do total vendido pelo Rio Grande do Sul. Arábia Saudita (+34,9%), Estados Unidos (-2,7%) e Coreia do Sul (+5,8%) completam a lista dos cinco maiores compradores do agronegócio gaúcho.

Emprego formal no campo

Tradicional período de contratação de mão de obra no campo, o primeiro trimestre em 2021 atingiu o maior saldo positivo na geração de empregos formais desde o início da série histórica, iniciada em 2007. A diferença entre admissões e demissões no setor ficou positiva em 26.504 empregos com carteira assinada, número superior aos 25.278 de 2019, melhor resultado até então, e aos 19.229 registrados em 2020.

Conforme o boletim do DEE/SPGG, além da recuperação da safra, o desempenho do segmento conhecido como “depois da porteira”, formado especialmente por atividades agroindustriais, foi o principal responsável pelo número positivo, com destaque para a indústria do fumo (+8.839 postos), comércio atacadista (+5.739 postos) e a moagem e fabricação de amiláceos (+2.381 postos).

“Na indústria fumageira, as contratações temporárias são características do primeiro trimestre, com pico em março. A alta na produção gaúcha de fumo contribuiu para esse aumento na demanda por mão de obra na indústria de processamento”, ressalta o pesquisador Rodrigo Feix.

O estudo destaca ainda o número recorde de vínculos com carteira assinada na indústria de abate e fabricação de carnes, que em março tinha um estoque de 67.695 vínculos ativos, o maior número da série histórica com base no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged), produzido pela Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia.

No segmento “dentro da porteira”, de atividades agrícolas, o resultado das lavouras permanentes, puxado pelas atividades de colheita da maçã, foi o principal destaque do primeiro trimestre (+4.275 postos). No segmento conhecido como “antes da porteira”, a fabricação de tratores, máquinas e equipamentos agropecuários (+1.918 postos) também apresentou saldo positivo.

Perspectivas

Para as exportações, o estudo do DEE/SPGG indica que a expectativa é de safra recorde de soja para o Rio Grande do Sul. Combinada com a alta nas cotações internacionais e a taxa de câmbio desvalorizada, a projeção é para um aumento nas exportações, especialmente no segundo semestre. A manutenção nas vendas de carne suína para a China também é esperada. O desafio para os produtores gaúchos fica por conta dos custos de produção, já que os preços dos principais insumos agrícolas estão em alta.

Quanto ao emprego formal, o documento indica que a “desmobilização de trabalhadores tende a ser acentuada no segundo e no terceiro trimestres”, puxada pelas dispensas nos setores de lavouras permanentes e da indústria de fumo.

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