Morreu por Covid? Família contesta morte de idoso em Cachoeira

A família do aposentado Miguel Motta Bauer, de 91 anos, está disposta a provar que a morte dele, ocorrida na tarde do último  domingo (23), não teve como causa a covid-19.

Contabilizado como sendo a quarta pessoa a morrer pela doença em Cachoeira do Sul desde o início da pandemia do novo coronavírus, Bauer era morador da casa geriátrica colocada em quarentena no começo do mês por conta de um surto da doença que, segundo a Secretaria Municipal da Saúde, acometeu 15 idosos.

A técnica de enfermagem Priscila Bauer, neta de Miguel, afirma que o avô estava recuperado da doença, mas tinha comorbidades e, com a idade avançada, acabou falecendo de causas naturais. Segundo ela, o avô começou a apresentar os primeiros sintomas de covid-19 cerca de 20 dias antes de o surto ser declarado oficialmente na casa geriátrica.

A nota da Vigilância Epidemiológica que tornou público o surto data de 6 de agosto. “Para sair do isolamento e ser declarada recuperada, são necessários que a pessoa fique 14 dias de isolamento. Veja quanto tempo já passou, são quase 40 dias desde os primeiros sintomas. O meu avô chegou a ser internado (no Hospital de Caridade e Beneficência), mas já havia dado alta. Ele morreu na casa geriátrica. Se ele ainda estivesse com covid, estaria hospitalizado, em UTI”, afirma Priscila.

DECLARAÇÃO DE ÓBITO

Conforme Priscila, o velório do avô foi autorizado, mas com caixão lacrado. Na declaração de óbito emitida pela própria Secretaria da Saúde, constam como causas da morte insuficiência respiratória, doença pulmonar obstrutiva crônica, tabagismo e idade avançada. No documento, que precede a emissão do atestado de óbito, não há nenhum tipo de menção ao novo coronavírus ou à covid-19.

Apenas males pré-existentes constam na declaração de óbito

 

TRÊS PERGUNTAS

Priscila Bauer, neta do aposentado Miguel Motta Bauer

 – Por que vocês decidiram levar adiante a contestação da causa da morte do seu avô?

Priscila – Tivemos de bater pé para evitar que o meu avô fosse sepultado sem que pudéssemos ao menos nos despedir dele. É claro que se ele estivesse apresentando risco de contágio para as outras pessoas, iríamos aceitar o diagnóstico (de covid) e aceitaríamos que não fosse realizado o velório. Mas ele já havia passado por internação hospitalar, havia recebido alta e já estava recuperado. Se não estivesse recuperado, certamente estaria hospitalizado.

 

– A Secretaria da Saúde diz o contrário, que o seu avô ainda apresentava sintomas…

Priscila – Com covid ou sem covid, meu avô sempre iria apresentar sintomas, pois tinha insuficiência respiratória e doença pulmonar obstrutiva crônica. Mas ele não morreu de covid. Inclusive, se a Secretaria da Saúde não corrigir isso, vamos entrar na Justiça. Como a própria declaração de óbito atesta, foram outras doenças pré-existentes, a idade avançada, enfim, morte natural. Estava tranquilo, recém havia feito a refeição, e faleceu. Tanto que não estava internado. Faleceu na casa geriátrica.  

 

 – Então vocês puderam velar o seu avô?

Priscila – Sim. Mas ocorreram diversas alterações no horário de início do velório. Foram três horários diferentes que tiveram de ser alterados por conta da indefinição na documentação, se tinha sido ou não por covid (a causa da morte). Inicialmente, iriam atestar por covid, mas como batemos pé, sumiram com a primeira declaração de óbito e voltaram com uma nova.

 

“Ele estava em recuperação, mas ainda apresentava sintomas”, diz secretário da Saúde

O secretário municipal da Saúde, Roger Gomes da Rosa, afirma que o paciente Miguel Motta Bauer ainda estava em recuperação da covid-19. O titular da SMS salienta que conversou com o médico infectologista Lucas Proença Dahlke, diretor técnico do HCB, que entende que a covid-19 “seria um dos fatores que levaram ao óbito, pois ele (Miguel) tinha também outras comorbidades”.

Segundo Roger, é com base nesse entendimento que foi mantido e contabilizado como óbito por covid-19. “Devido a ele estar na casa que está em surto e estava sintomático, podemos dizer que estava em recuperação. Mas a casa não saiu da quarentena ainda. O surto ainda não está controlado, pois recentemente outra profissional de saúde da casa diagnosticou positivo”, complementa o secretário da Saúde.

 

 

 

fonte Jornal O Correio