Brasileiros gastam mais com o pagamento de juros do que com a educação e alimentação

Segundo uma pesquisa sobre as finanças dos brasileiros, as famílias gastam atualmente mais dinheiro com juros do que, por exemplo, com alimentação fora de casa e educação.No dia a dia, ou de vez em quando, a gente gasta dinheiro com carne, feijão, detergente, transporte, remédio, roupa, brinquedo, salão de beleza, e gasta também dinheiro com juros.

A diarista Maria de Jesus Lopes está pagando uma máquina de lavar roupa que comprou em 12 vezes. O total dá R$ 1.716; à vista era R$ 1.080.
“Estou pagando mais de R$ 600 reais de juros”.

Em 2017, as famílias brasileiras gastaram R$ 354 bilhões com o pagamento de juros – o equivalente a 10% de tudo o que ganharam. O levantamento mostra que, no geral, gastamos mais com juros do que com alimentação fora de casa, roupa, educação, plano de saúde e energia elétrica.

“A gente fez um empréstimo, isso vai fazer três meses, era de R$ 70 mil, hoje já está em R$ 81 mil”, diz a química Mariana Gurgel.

“Significa que temos no Brasil uma taxa de juros extremamente elevada e incondizente com qualquer perspectiva de crescimento sustentável para os próximos anos”, afirma o economista da Fecomércio Altamiro Carvalho.

Juro é o preço que se paga pelo dinheiro que a gente não tem, mas que precisa porque não pode esperar, no caso de uma emergência, ou porque quer comprar alguma coisa mais cara, por exemplo. É assim no mundo inteiro, o crédito faz girar a economia. Mas, no Brasil, o que a gente paga de juros é, literalmente, um país inteiro.

Somando os gastos das famílias com os das empresas, os brasileiros pagam de juros mais do que o PIB (produto interno bruto) do Equador, o conjunto de todos os bens e serviços produzidos pelo país em 2017.

De outubro de 2016 para cá, o Banco Central cortou pela metade a taxa Selic (básica de juros), que serve de referência para o mercado, mas a taxa média cobrada das pessoas físicas caiu bem menos, de 43% para 31%.

Para cair mais rápido, Altamiro Carvalho diz que é preciso reduzir o spread – a diferença entre o que os bancos pagam e cobram dos consumidores – que inclui inadimplência, lucro e impostos. Também é essencial ter mais dinheiro para emprestar.

No Brasil, o crédito representa 60% do PIB, enquanto nos Estados Unidos e na França passa de 100%.

Tudo depende de o governo gastar menos. “O governo deixar de gastar mais do que arrecada. Ao gastar mais do que arrecada, ele precisa pegar essa diferença no mercado de crédito, retirando uma quantidade muito grande de recursos que poderiam estar irrigando o crédito para as empresas e para as famílias. Essa é a prova cabal de quanto o desequilíbrio bate no bolso do consumidor”, explica o economista.