Bolsonaro defende isolamento vertical para idosos e pessoas com comorbidades

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) manteve nesta quarta-feira (25) o tom adotado em seu pronunciamento da véspera sobre a crise do novo coronavírus, criticou medidas tomadas por governadores de restrição de movimentação de pessoas e defendeu o isolamento apenas para aqueles do chamado grupo de risco, como idosos e portadores de comorbidades.

“Vou conversar com ele [Luiz Henrique Mandetta, ministro da Saúde] e tomar a decisão. Cara, você tem que isolar quem você pode. Você quer que eu faça o quê? Eu tenho o poder de pegar cada idoso e levar para um lugar? É a família dele que tem que cuidar dele no primeiro lugar”, afirmou o presidente, em entrevista em frente ao Palácio da Alvorada, a residência oficial.

O presidente afirmou que quer que seja adotado o que chamou de “isolamento vertical” no Brasil, que atingiria apenas idosos e pessoas com doenças prévias. Ele disse que governadores, principalmente os de São Paulo, João Doria (PSDB), e Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), têm adotado um “isolamento horizontal”, que abarca toda a população. “O mal que teremos com o isolamento horizontal será muito maior do que o mal que teremos com o vírus”, pontuou.

Ele voltou a falar que as ações de governadores prejudicam a economia e podem criar um ambiente de caos no país, o que, segundo ele, pode gerar saques a supermercados e instabilidade democrática. Ele citou a esquerda e deu os protestos do Chile como exemplo.

“O que precisa ser feito? Botar esse povo para trabalhar, preservar os idosos, preservar aqueles que têm problema de saúde. Mais nada além disso. Caso contrário o que aconteceu no Chile vai ser fichinha perto do que pode acontecer no Brasil”, declarou. “Se é que o Brasil não possa ainda sair da normalidade democrática que vocês [imprensa] tanto defendem”.

Ao ser questionado sobre o tema, o presidente disse que o risco de um rompimento democrático viria da esquerda, que segundo ele pode se aproveitar da situação. “Não é da minha parte não, fique tranquilo”. Bolsonaro afirmou ainda que, se a economia colapsar, não haverá recursos para o pagamento de servidores públicos. “O caos está aí, na nossa cara”.

Os termos usados pelo presidente para se referir a governadores e prefeitos que têm investido na restrição de movimentação —como o fechamento de comércio e divisas estaduais— foram duros.

Ele declarou que “alguns poucos governadores e prefeitos” estão cometendo “um crime”, “arrebentando com o Brasil e destruindo empregos”. Para Bolsonaro, Doria e Witzel fazem “demagogia barata” para se colocarem como “salvadores da pátria” e “esconder problemas”. Ele arremeteu e disse que, depois, não adianta os líderes estaduais pedirem GLO (Garantia da Lei e da Ordem) ao governo federal para conter problemas em seus territórios.

“Eu queria que ele [o coronavírus] não matasse ninguém, mas outros vírus mataram mais do que esse e não teve essa comoção toda”, declarou o presidente.

Por último, o mandatário brasileiro foi questionado sobre as críticas que recebeu por seu pronunciamento da terça na cadeia nacional de rádio e televisão. Elas vieram de especialistas em saúde pública, governadores e de membros do Congresso Nacional, entre eles o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM).

“Fui criticado por quem? Por quem nunca fez nada pelo Brasil? Estou muito feliz com a crítica”, disparou o presidente.